Ao falarmos sobre guerra às drogas, logo imaginamos aquelas imagens emblemáticas da televisão, com helicópteros sobrevoando as periferias, o caveirão (viatura blindada da polícia do Rio de Janeiro) subindo os morros, trocas de tiro e sempre a imagem de jovens negros segurando fuzil, personificando todos os traficantes do Brasil. Mas o que pouco se divulga, é como chegamos nesse contexto de guerra e o porquê dela continuar, uma vez que os dados estatísticos não mostram nenhuma redução do tráfico de drogas, nem mesmo da violência.

É evidente que se trata também de uma guerra midiática, uma falsa sensação de combate às drogas. Chega a ser intrigante, o Estado declarar guerra às substâncias que são inanimadas. Pouco se questiona como essas drogas chegam aos morros e como o Estado faz a própria manutenção desse combate apenas em áreas periféricas e populações pobres. Só existem drogas nas periferias? Só os pobres traficam? Somente os negros portam fuzis? Pouco se mostra sobre apreensões de drogas em bairros luxuosos, pouco se fala dos jovens brancos que são presos contrabandeando armas e munições, pouco se fala sobre dos helicópteros e jatinhos de políticos com drogas, pouco se fala do jato das forças armadas com quase 30kg de cocaína.
O que acontece é a demonização das favelas e, consequentemente, dos seus habitantes, negros e pobres. A mídia e o Estado criam alvos e declaram guerras direcionadas. Essa guerra está longe de acabar, uma vez que nunca existiu na história uma civilização sem drogas. Ademais, atualmente em alguns países o Estado tem se beneficiado com a regulamentação, descriminalização e legalização de substâncias psicoativas, sobretudo com impostos, cuidados com a saúde e controle social.
Em 2019, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou levantamento apontando que o Brasil teve, em 2017, quase 66 mil pessoas assassinadas, das quais 75% eram negras. Enquanto a taxa de brancos assassinados por policiais é de 1,5 a cada 100 mil habitantes, na população negra essa taxa é de 4,2.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) de 2020, indicam que uma pessoa é assassinada no Brasil a cada 10 minutos. Em comparação com 2019, houve um aumento de 7% no número de homicídios. Taxa cerca de 30 vezes maior do que a Europa.
Por Gabriel Costa
Fontes:
Canal Ciências Criminais
Anuário Brasileiro de Segurança Pública