A região do Vale do São Francisco, no sertão nordestino, é um importante pólo de produção e distribuição de produtos agrícolas do Brasil. Essa região tradicional fez e faz parte da construção da história do Brasil e da identidade dos brasileiros. 

No entanto, são poucas as produções literárias e acadêmicas que abordam a história do desenvolvimento do Vale do São Francisco em si. Uma dessas produções, pouco difundida, é o livro “Transição capitalista e a classe dominante no nordeste”, de autoria do escritor norte americano Ronald H. Chilcote, o qual esteve no Brasil sucessivas vezes nas décadas de 1960 e 1970.

Fascinado pela leitura de Os Sertões, do escritor brasileiro Euclides da Cunha, o autor não poupou esforços para traçar um panorama da história e do desenvolvimento do Vale do São Francisco. Despertou-lhe interesse o fato de duas cidades (Petrolina-PE e Juazeiro-BA) coexistirem tão próximas e com características tão diferentes, apesar de unidas pelo Rio São Francisco.

Em seus estudos, Chilcote fez pesquisas variadas sobre história, economia, desenvolvimento e as relações humanas na região, no período em que se dedicou a coleta de dados. Um dos aspectos mais importantes de sua pesquisa se refere a identificação das estruturas de poder em Juazeiro e Petrolina. Convivendo com a comunidade e através de entrevistas com personalidades influentes, formadores de opinião, pessoas de destaque na sociedade e até mesmo estudantes secundaristas, o autor desenvolveu análises sobre o funcionamento social e político das duas cidades.

De acordo com o pesquisador, Juazeiro foi ao longo da sua história dirigida alternadamente por estruturas de poder baseadas em uma burocracia de caráter altamente paternalista e populista, o que fez com que a economia local se tornasse estritamente dependente do mundo exterior em detrimento da economia local fechada. Petrolina, segundo o autor, se beneficiou de uma estrutura patriarcal baseada numa única família (em que pese a falta de alternância de poder), o que lhe permitiu atingir certo grau de autonomia no desenvolvimento capitalista, culminando em um modelo econômico capaz de se integrar à economia nacional e mundial.
    
A obra de Chilcote é fundamental para aqueles que pretendem estudar o desenvolvimento do Vale do São Francisco à luz das teorias econômicas e sociais, ou mesmo para os curiosos que se interessam em compreender melhor as nuances históricas que formam a região.


Por João Gilberto Guimarães


Referência bibliográfica:

Chilcote, H. Ronald. Transição capitalista e classe dominante no nordeste. 1° edição. EDUSP. 1991.