A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL NO BRASIL
O
pesquisador da USP, professor de Semiótica, José Luis Fiorin, define a
ideia de Nação como uma criação moderna, nascida em torno do século
XVIII, anterior a “Independência” do Brasil. Até então, o sentimento
predominante era o dinástico e não o nacional.
O autor defende
que o processo de formação identitária é constituído na determinação do
patrimônio de uma nação e em seu culto. Logo, este patrimônio deve ser
comum as diversas regiões do país, para que haja esta identificação.
Deste modo, a nacionalidade seria uma forma de identidade.
No
caso do Brasil, o hino nacional, por exemplo, pouco retrata o seu povo. O
enfoque está mais direcionado à natureza. O que mostra que a identidade
do povo brasileiro ainda não havia sido constituída ou bem
caracterizada. Daí, a reverência à natureza foi uma forma encontrada
para representar as características do país no hino.
Já o
professor, Kabengele Munanga, aponta que a identidade é um processo e
nunca um produto acabado; e que o processo de formação da identidade
nacional no Brasil recorreu a métodos eugenistas que visavam o
embranquecimento da sociedade, com o discurso de “somos todos iguais” a
ideologia do branqueamento buscou alienar a identidade dos negros e
mestiços e por consequência dividi-los e enfraquecê-los. Mecanismos
culturais, ideológicos, políticos e sociais são utilizados e
apresentados como biológicos, quando, na verdade, a categoria de raça,
por exemplo é uma criação política de diferenciação e exclusão.
Neste
sentido, toda unidade pressupõe a exclusão dos diferentes. Logo, a
idéia de identidade nacional colide com as identidades culturais dos
grupos não-hegemônicos. Neste sentido, para os autores supracitados, a
identidade nacional trata-se de um discurso, de uma criação que se
constrói dialogicamente.
Para a criação da ideia de nação
necessita-se de elementos simbólicos e materiais que a representem. Por
isso que a bandeira, a língua, o hino, heróis e costumes são tidos como
princípios fundamentais para um povo e sua nação.
A construção
da identidade nacional no Brasil foi e ainda é – por se tratar de um
processo - marcada por uma exclusão cultural e sociopolítica dos povos
afro-brasileiros e indígenas. Embora o senso comum e no colonialismo
epistemicida, julguem a identidade nacional brasileira como uma cultura
da mistura e não da triagem, utilizando os conceitos de puro/impuro e
igual/desigual.
Ademais a criação da identidade nacional
brasileira feita por intelectuais e romancistas como José de Alencar,
Gilberto Freyre, Gonçalves Dias e outros, como a autodescrição da
formação da nação brasileira não incluiu os povos afro-brasileiros, pelo
contrário, em algumas obras, como no livro “O Guarani” os europeus e os
indígenas – o bom selvagem - são colocados como os povos que deram
origem a noção de povo brasileiro.
Violências, preconceitos e
exclusões que ocorrem na sociedade brasileira costumam ser ocultadas e
veladas, em favor de uma face de mistura e inclusão, quando o que ocorre
de fato é um princípio da triagem e da exclusão no interior das
relações cotidianas que subjugam e excluem os grupos não-hegemônicos, os
povos afro-brasileiros e indígenas.
Por tudo isso faz-se
necessário problematizar a ideia de identidade e nação que temos hoje no
Brasil e buscar entender os mecanismos de poder e dominação que as
constituem.
Por: Maria Gabriela Mendes
Bastos
Fonte:
BAKHTINIANA, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 115-126, 1o sem. 2009
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil.
FIORIN, José Luis. A Construção da Identidade Nacional.
0 Comments
Postar um comentário