A ESCRAVIDÃO INDÍGENA


A constituição do racismo no Brasil, foi um processo que dependeu de uma brutal violência ao longo da colonização do território brasileiro pelos colonos portugueses. Esse processo iniciou-se com a captura e escravização dos povos indígenas, que foi fundamental para a constituição das capitanias. Desse modo, eram chamados de "bandeiras", tendo como os algozes dos povos indígenas, os bandeirantes, que "desbravavam" as terras brasileiras com o objetivo de expropriar, explorar e destruir as populações indígenas.

O primeiro aspecto era o aprisionamento dos indígenas e seu deslocamento de suas aldeias. O segundo aspecto é o da desumanização do indígena, dado que a dominação colonial também tinha dentro de si elementos ideológicos e, também, uma razão de ser institucional e jurídica: era preciso rebaixar o estatuto humano do indígena para justificar sua tutela pelos escravizadores. O terceiro aspecto, é a relação constituída entre os senhores e os escravizados, atravessada por um paternalismo, com elementos religiosos em seu fundamento, e uma violência, seja do dominador em sua dominação e dos dominados e sua resistência.

A primeira forma de racismo em terras brasileiras deu-se contra os povos indígenas e que esse racismo estava profundamente ligado com o processo de escravidão, que foi crucial para a acumulação de capital no Brasil. A acumulação de riqueza pela elite senhorial e o império que financiava os projetos de colonização do território brasileiro dependeu, durante séculos, exclusivamente da exploração do trabalho escravo. E o racismo pode ser observado na forma "animalizada" como os escravizadores descreviam os povos indígenas e no discurso da "civilização cristã" contra a "barbárie pagã" do povo indígena "selvagem".

Esse processo não se deu sem contradições: entre os interesses econômicos da elite senhorial e os interesses políticos e religiosos da autoridade religiosa jesuítica, que entraram num embate pela "tutela" dos indígenas escravizados.

Por Gabriel Belarmino

Fonte:
MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.