A Segunda Escravidão


A segunda escravidão trata-se de um termo usado na historiografia para se referir a um campo de estudos que busca elucidar as relações entre a escravidão e a consolidação do sistema de produção capitalista. Por que a segunda escravidão recebe esse nome? Trocando em miúdos, o processo de produção escravista moderno passa por uma transformação no período da revolução industrial, quando ele não é mais uma forma de acumulação de riqueza de senhores de engenho e coroas individuais, mas passa a fazer parte do processo de produção industrial de mercadorias, na medida em que as matérias-primas produzidas através da mão de obra escrava são integradas no processo produtivo capitalista.

Durante o período da revolução industrial, que se consolidou no século XIX, mais pessoas foram sequestradas do continente africano do que em todos os séculos anteriores. Isso porque a demanda por matérias-primas (como açúcar, algodão, café, etc.) aumentou exponencialmente. O Brasil concentrou a produção cafeeira nesse período e os senhores de escravos prosperaram como nunca antes. Concomitantemente a esse processo de expansão do tráfico de escravos para as Américas também acontecia à expansão do racismo “científico”.

O racismo científico buscava justificar a desumanização das pessoas negras através de estudos pseudocientíficos sobre as diferenças entre as “raças”, hierarquizando as diferentes etnias presentes nas Américas. Esse processo, com o aparecimento do darwinismo social, que é uma leitura equivocada da teoria da evolução de Darwin, também levou ao desenvolvimento da eugenia, um ideal equivocado de purificação racial. Mais tarde, a eugenia irá ascender como ideologia de formação de um ideal de povo brasileiro, que irá produzir uma série de contradições no processo de integração do povo negro no Brasil.

 

Por: Gabriel Belarmino

REFERÊNCIAS:

TOMICH, Dale. Pelo Prisma da Escravidão: trabalho, capital e economia mundial. São Paulo: EdUSP, 2011.

MARQUESE, Rafael. Feitores do Corpo, Missionários da Mente: Senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660-1860. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.